quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ausente

Sempre que chego a Petrópolis é assim. Sinto algo de ausente no ar.

Procuro os rituais do achocolatado quente pela manhã e o frio desesperador nos pés. Aquela meia grossa de lã e aquele passeio pelas ruas históricas das mansões. O cheiro do frio e a névoa pela janela.

O pijama listrado de manga cumprida. E a catedral gótica no final da comprida Koeller. Dali, o Palácio de Cristal e um chá da tarde no D´Angelo. Mais famoso do que bom. Os estalos da madeira queimando na lareira. O gosto da brasa na batata assada com manteiga.

O Mirabel no recreio da escola. Os passeios pelos jardins do museu. As risadas nervosas nas conversas com os meninos. As faces sempre rubras, queimadas do frio. Os lábios vermelhos, cortados pelo vento. E a vontade de cochilar num mormaço quentinho. Aquela garoa fina que nem molha o cabelo. Do café queimando a língua.

Busco também a tristeza daquela cidadezinha. Mais pacata do que triste. Vida simples de quem não quer muito. Ou quer pouco mesmo. A falta de laço com a cidade me entristece, mas me dá liberdade.

Procuro e não acho.

Acho que é aquele eu que não existe mais.

Um comentário:

  1. APLAUSOS.

    Lindo texto. Apesar de não ter esse tipo de relaçao com Petropolis, senti totalmente o que vc escreveu. Lindo texto mesmo.

    Bjos amiga!

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