E o que eu perdi

Não foi tão grande assim

E o que me doeu

Não foi tão dor assim


Você foi embora

E mais uma vez

E mais de uma vez


É difícil ouvir

Da tua boca calada

Tudo o que eu nunca quis lhe dizer

Prefiro não te ver

Do que ter que te dizer

Prefiro ser eu mesma do que você


O que era aberto

Se tornou mais quieto

Na ilusão de uma vazia solução


E eu me pergunto

Quem é você que eu amei

E se a verdade é dos dois

A realidade é de quem?

Completo e por engano
Cheio de pretextos
Metade homem
Parte de um pouco
Momentos vazios
Repletos de cio

Aí, ele pegou na minha mão. Fiquei um pouco nervosa, não sabia direito o que fazer. Podia respirar naquele momento ? E se ele sentisse meu suspiro pela mão ? Ficamos o tempo todo de mãos dadas. E toda essa tensão passou. Era maravilhoso estar de mãos dadas com ele. Encaixava. Até meu dedinho mindinho torto seguia o contorno do dele. E nossas mãos não morriam, ficam ali, firmes. Uma com a outra. Era confortável. A gente não ficava mexendo o tempo todo, mudando a mão de lugar. Nossas mãos nem suavam. A gente só sabia que estava ali, um para o outro.

Aquelas veinhas azuis
que desembocam como um delta
na púbis peludinha
à margem da entrega
da nascente de seus detalhes
que tanto me alucinam
fico ensandecido com seu cheiro
degusto sua calda
que ao encontro da minha
explode em alquimia
com fosforescências de alegria!

Tenho um amigo

Tenho um amigo
Que faz muitas perguntas
Outro, muitas promessas
Tenho um amigo
Que beijo na boca
Outro que faz muitas merdas
Tenho um amigo
Que me escreve cartas
Outro que se faz de besta

Pedido ao comissário de bordo

Por favor, mais umas gotinhas de floral,
Umas bolinhas homeopáticas
E um beijinho na nuca?

Hoje eu te vi acordar
Essa cara de sono
Esse jeito sem jeito de me olhar

...

Cabelos despenteados
Esse olho inchado
E uma vontade enorme de abraçar

...

Você finge um desprezo
Dessa coisa maluca
E deixa o silêncio explicar

...

Já que não consigo rir de mim, ainda bem que você ri para mim.

Cena 3

De manhã
Com aquela calcinha
Que todas as manhãs merecem
Era um domingo cedo
Preparava um café
De frente para a pia da cozinha
Até sentir seu abraço por trás

Um amor que dói de intenso
E dói de ausência.